Bilhões em incentivos para veículos elétricos no Brasil: impacto limitado nas emissões — Notícias automotivas | automotive24.center

Bilhões em veículos elétricos com efeito mínimo: por que o impulso aos EVs está perdendo força

Nos últimos anos, o Brasil investiu quantias enormes na promoção de veículos elétricos por meio de incentivos fiscais e programas governamentais

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A lógica parece simples: menos emissões do escapamento significam menos CO₂. Mas ao analisar os números de perto, a realidade é bem mais complexa. Um especialista em economia do transporte examinou os dados — e as conclusões não são exatamente favoráveis à estratégia atual.

Uma meta ambiciosa com resultados modestos

Mesmo aceitando que a mudança climática é um desafio sério e que a atividade humana contribui significativamente, surge a pergunta principal: o caminho escolhido está funcionando? No Brasil, a resposta não é clara. O transporte pessoal representa uma fração tão pequena das emissões globais de CO₂ que eliminá-lo completamente não resolveria o problema em escala mundial.

Ainda assim, o governo federal e estados destinaram bilhões de reais em incentivos fiscais nos últimos anos, incluindo reduções de IPI, isenções de IPVA em vários estados e o Programa Mover. Somando benefícios locais e indiretos, o investimento total chega a dezenas de bilhões em menos de uma década.

Quantos veículos elétricos conseguimos com esse dinheiro?

Aqui a coisa fica interessante. Apesar de todos esses apoios, circulam menos de 200 mil veículos 100% elétricos nas estradas brasileiras. Isso representa menos de 0,2% do parque veicular total, que ultrapassa 120 milhões de unidades. O impacto continua limitado.

Mas o problema não é só a quantidade, e sim a eficiência. Com o atual mix energético do país, onde a eletricidade nem sempre vem de fontes renováveis, a redução de emissões é bastante modesta.

O custo por tonelada de CO₂

Análises indicam que reduzir emissões via incentivos a EVs custa consideravelmente mais do que outras estratégias. O preço efetivo por tonelada de CO₂ evitada pode chegar a centenas de milhares de reais — bem acima de alternativas de descarbonização.

A rede elétrica também não ajuda muito

Outro fator complicado é o fornecimento de energia. A rede brasileira depende em grande parte de fontes térmicas em períodos críticos, e a transmissão de energia aumenta a pegada de carbono total. Como resultado, parte dos benefícios "verdes" prometidos pelos EVs se perde no caminho da usina até o carregador.

Novos incentivos e perguntas antigas

Mesmo assim, continuam as reduções de impostos como isenções parciais ou totais de IPVA em 12 estados e benefícios no Programa Mover para 2025-2026 em veículos elétricos e híbridos. Esses apoios atendem uma ampla faixa de renda, embora muitas vezes beneficiem quem compraria um EV de qualquer forma.

Por exemplo: um EV compacto equivalente disponível no mercado brasileiro começa em torno de R$ 150.000, com bateria de cerca de 60 kWh e autonomia aproximada de 400 km. Não é o carro familiar mais óbvio nem o mais acessível, mesmo com os incentivos fiscais.

Preço aproximado de mercado no Brasil: R$ 140.000–R$ 220.000 para EVs compactos semelhantes.

Uma conclusão direta

Mesmo se os incentivos impulsionarem centenas de milhares de vendas adicionais de EVs, ainda será uma gota no oceano comparado ao parque veicular total. E muitos compradores teriam optado pelo elétrico sem apoio extra.

No final, parece que muito dinheiro é gasto em números bonitos e relatórios, mais do que em reduções reais de emissões. Não é preciso ser especialista em economia para ver isso: basta olhar os resultados.